sábado, 19 de setembro de 2009

Futebol Porque o futebol e tão querido no Brasil?

As origens da paixão nacional pelo futebol
Pesquisador da Unicamp explica o porquê de um esporte nascido na Inglaterra ser tão popular no Brasil .
Nenhum outro esporte mobiliza os brasileiros tanto quanto o futebol, já oficializado como paixão nacional. Este envolvimento sempre intrigou o historiador Leonardo Affonso de Miranda Pereira, professor do Departamento de Teoria Literária da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Afinal, quais foram os fatores que fizeram com que um jogo criado na Inglaterra se tornasse tão popular no Brasil? Pereira respondeu esta questão em sua tese de doutorado, defendida em 1998 que virou o livro "Footballmania. Uma história social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938)". A obra ganhou o Prêmio Jabuti de Ciências Humanas no ano passado. Depois de quatro anos de pesquisa, Pereira identificou pontos que fazem do futebol um esporte especial para o brasileiro:
Sempre foi popular - Pereira derruba a tese de que, nos primeiros anos do século passado, o futebol era um esporte praticado apenas pela elite. A descoberta, surpreendente, foi feita através da pesquisa em documentos policiais. Isso mesmo. Na época era obrigatório comunicar à polícia o desejo de se criar uma agremiação. "Identifiquei dezenas de pequenos clubes, formados em sua maioria por trabalhadores, que estavam ausentes da história normalmente contada sobre futebol", conta o professor. A explicação desta popularização está na facilidade de se praticar. "Claro que o modo exato de se jogar - com campo de tamanho correto, grama à determinada altura, bola com peso ideal - o torna um esporte caro. Mas os clubes pequenos jogavam como podiam", relata Pereira. O historiador lembra que os esportes em voga na época (remo e corrida de cavalos) eram excludentes pois exigiam dinheiro e estrutura. "Na rua, até uma laranja servia como bola para quem quisesse jogar futebol. E assim, era no qual os torcedores também eram jogadores".
Representação nacional - Em 1934, pela primeira vez, um atleta negro, Leônidas Silva, é convocado para jogar uma Copa do Mundo. Esta "permissão" da elite, que até então mantinha negros e afro-descendentes longe dos gramados oficiais, nasce de uma mudança de mentalidade com relação à formação cultura híbrida do povo brasileiro: a mistura de raças passa a ser vista não mais como um problema e um fardo, mas sim como uma vantagem. O auge dessa mudança se dá com a publicação, em 1933, de "Casa Grande e Senzala", de Gilberto Freyre, que defende essa positividade. "É justamente por ocasião da Copa de 1938 que o sentimento nacional se consolida em torno do futebol. Algumas imagens também se cristalizam em relação a ídolos negros, como o próprio Leônidas da Silva e também Domingos da Guia. Ou seja, o conjunto da população passa a se identificar com uma seleção mestiça", afirma Pereira.
Convicção de que o Brasil joga "o melhor futebol do mundo" - É em 1938 que se enraíza no país o sentimento de que brasileiro joga futebol de uma maneira diferente. "Acredita-se que o Brasil tem ginga, tem o futebol malandro, que valoriza o drible e que o diferencia de todos os outros países", diz o pesquisador. "Esta crença ainda existe. Na última copa, o Brasil ficou em segundo lugar na competição - colocação que seria motivo de festa para qualquer outro país - mas aqui sentimos como uma tragédia nacional''.

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